Conheça a história das salva-vidas que trabalham na temporada de verão

Em Torres, este é o primeiro ano em que uma mulher está a serviço do resgate de vidas no mar





A 43ª Operação Golfinho conta com 10 mulheres nas guaritas do Litoral Norte. Pode até parecer pouco, se comparado com o contingente de 790 homens, mas elas vêm se animando com a ideia e estão aumentando a sua participação com velocidade.


Cássia e Vânia atuam em Xangri-Lá
Foto: Vinícius Roratto
A primeira foi a soldado Vânia Maria De Nale, 37 anos, na temporada 2001/2002. No ano seguinte, chegou a segunda. E, depois, outras e mais outras. Com De Nale, o incentivo veio de um homem: o marido sargento Paulo Henrique Soares de Quadros, 42 anos. Ele já era salva-vidas há três anos e ambos treinavam juntos. Chamou a atenção de Quadros que ela nadava e corria parelho com ele. Aí, para ficar mais próximo dela no verão também, fez-lhe o desafio. De Nale passou de primeira.


— Com o tempo, as pessoas vão se acostumando. Cansei de ver gente me olhando atravessado. Diziam: "será que ela vai conseguir resgatar, vai ter força?" — lembra a soldado que, durante o ano, serve na Patrulha Ambiental da Brigada Militar (BM) e agora trabalha na guarita ao lado da plataforma em Atlântida.


Em uma profissão onde a técnica manda mais que a força, as mulheres já têm uma resposta na ponta da língua:

— Se não conseguisse, já tinham me mandado embora.

De Nale diz isto porque os testes para salva-vidas são conhecidos como altamente exigentes. Muita gente fica pelo caminho e não consegue atuar nas guaritas. Além disso, não há diferença no treinamento para ambos os sexos.

— Não adianta poupar no teste. Qualquer um de nós, homem ou mulher, têm de entrar no mar e chegar o mais rápido naquela vítima. A família dela está nos olhando, esperando lá fora (do mar) que a gente traga a pessoa com vida — argumenta.

E quem divide a casinha vermelha com elas garante: não há companhia melhor. Além da preparação técnica, elas ainda dispõem de outros atributos: doçura e delicadeza em primeiro lugar.

Ainda tem banhista que se espanta quando as vê no comando dos resgates, fora aqueles que não se aguentam e soltam piadinhas interesseiras. A campeã é: "vou fingir que estou me afogando para você me salvar!". É de última, garantem todas.

As histórias de luta e desafios dessas guardiãs do mar se misturam e se confundem. Quase todas passaram pelos mesmos desafios. Por isso, separamos duas histórias para contar.


Veraneio x Trabalho

Cassia, estudante do 5º semestre de
Direito em Erechim, atua pelo quinto ano
na praia de Xangri-lá
Foto: Ricardo Duarte - Agência RBS
De olhos esverdeados delineados pela maquiagem permanente, a estudante do 5º semestre de Direito em Erechim Cassia Priscila Pitthan Lírio, 26 anos, esbanja vaidade. Oferece o sorriso largo a todo o instante. É apaixonada por brincos grandes, mas tem uma coleção dos pequenos. Um de cada cor para trabalhar na guarita, de acordo com a sobriedade imposta pela farda. De unha pintada, confessa que não abre mão da manicure semanalmente.

— Não é porque estamos trabalhando na praia que não vamos nos cuidar. Eu tenho a minha vida, saio com as minhas amigas de quartel quando estamos de folga, vamos a barzinhos, tomamos banho de sol. Não é porque eu sou militar que tenho de ser masculina — confessa, mostrando a bolota azul pendurada na orelha.

Este já é o quinto ano que Cassia atua como salva-vidas. Em todos eles desperta o interesse de marmanjos admirados com sua beleza delicada, distribuída em 54 quilos e 1m67cm de altura que preenchem o traje típico: sunkini preto e top por baixo da regata da corporação. Solteira, ela desvencilha-se das cantadas com elegância.

— É claro que tem gente que chega com umas conversas chatas inconvenientes e eu tento ser educada. Não me sinto constrangida. A gente tem de saber levar — conta a soldado.

O colega de guarita, soldado Diogo Neimar Coelho, 28 anos, atesta a declaração:

— Acho bacana o jeito que ela lida com essas situações. Dá uma risadinha, finge que não ouviu.

Apesar de toda a brandura, Cássia não admite melindres para cima dela. Exige ser tratada de igual para igual quando está na sua guarita em Xangri-lá.

Ela é praieira assumida e confessa que muito do desejo de integrar a Operação Golfinho tem a ver com a paixão por estar na praia mais tempo.




A sergipana que é o xodó da gurizada em Torres

Este foi o primeiro ano em que o polo de Torres, que vai dos Molhes ao balneário de Paraíso, recebeu uma mulher como salva-vidas.

— É uma novidade, o xodó da gurizada. É muito legal conviver com ela, porque ela tem esse jeitinho diferente, os hábitos, os costumes — contou o tenente Julio César Corrêa Luz, comandante dos salva-vidas de Torres.


Ana Maria faz parte da Operação Golfinho
em Torres - Foto: Ricardo Duarte
De prontidão na guarita 18 da Praia Gaúcha, em Torres, é uma dificuldade para a sergipana Ana Maria Belarmino Mizael, 27 anos, engatar em um assunto. Toda humilde. Toda modesta. Toda tímida. Não acha nada de mais na sua história. Os outros ficam de queixo caído.

— Não sou braba, só tímida — diz

Tudo começou assim: com 18 anos, colocou meia dúzia de roupas em uma mochila e se mandou para Rio Grande. Foi estudar Oceanografia na Universidade Federal de Rio Grande (Furg). A mãe mandava dinheiro para que se formasse logo. Mas Ana Maria só queria saber de festa. Em 2009, a mãe cortou-lhe a verba e ordenou:

— Ana Maria, volte já para a casa!

Nem por decreto abandonaria a cidade que estava amando conhecer. Também não queria retornar sem terminar a faculdade. Como sempre gostou de nadar — antes disso, já havia trabalhado de salva-vidas civil temporário no Cassino — encorajou-se e passou para a Brigada Militar e integra a Patrulha Ambiental de Rio Grande. Fez tudo isto muito pelo desejo de se tornar oficialmente salva-vidas.

- Eu nem queria tentar, porque achava que não tinha condições de passar. Ainda mais que não era daqui. Fui encorajada por uns amigos e acabei passando. Nossa, foi uma felicidade sem tamanho — narrou.

Da faculdade, só falta apresentar o trabalho de conclusão, o que deve ser feito neste ano. Nas férias, Ana Maria volta para Aracaju e até que bate a vontade de ficar por casa, mas seus interesses ainda estão em solo gaúcho. Ainda mais que se casou há um ano com um bombeiro de Rio Grande.

Vaidade, mesmo, tem pouca. Salto alto, olho pintado e cabelo domado apenas para a balada.

— Só o que eu faço é passar protetor solar, porque a profissão exige um creme no cabelo já que o vento e a maresia deixam ele destruído — conta a moça de cabelos escuros, crespos e mechados do sol.


Timidez dá lugar à coragem nas águas


Caroline dos Santos está em sua 3ª temporada 
na Operação Golfinho, em Nova Tramandai
Foto: Vinícius Roratto
Na guarita 162, em Nova Tramandaí, uma garota tímida também chama a atenção dos veranistas. Caroline Maria dos Santos está em sua terceira temporada na Operação Golfinho, mas já atua como veterana. Natural de Terra de Areia, ela não esconde a timidez. Porém, quando o assunto é salvamento, a coragem e o profissionalismo se destacam.

Incentivada pelo tio, o sargento da reserva Cláudio Vieira, também salva-vidas, ela começou a treinar com afinco, até ser aceita na Golfinho. Casada com um salva-vidas, ela afirma gostar de nadar e correr, requisitos básicos para autuar em salvamentos. "O treinamento é o mesmo", ressalta. "Além disso, a vítima não quer saber se é um homem ou uma mulher que irá lhe salvar", completa Caroline.

Quando aos colegas homens, Caroline afirma não ter sofrido nenhum tipo de preconceito. O mesmo não pode dizer de alguns veranistas. Porém, com seriedade e esforço, ela foi se impondo. Porém, as "cantadas" de alguns mais afoitos são inevitáveis, algo encarado com bom humor. "Alguns falam algumas bobagens, mas tudo dentro do limite", acentua. "E, eu vou procurando aprender com os veteranos", resume a tímida Caroline.


"A mentalidade das pessoas está mudando"

Carla Rodrigues atua na praia de
Imbé há três anos 
Foto: Vinícius Roratto
A mentalidade das pessoas está mudando e o preconceito está diminuindo. Está é a interpretação da soldado Carla Rodrigues Avozani, 25 anos. Ela lembra o início da carreira como salva-vidas, há três anos, quando as pessoas passavam pela guarita onde estava e subestimavam a sua capacidade. "Os veranistas passavam e diziam, me olhando, aquela pessoa é muito grande ou gorda, como essa guria vai conseguir salvá-la?", relembra. 

"Quando eles precisam, acabam dando o devido valor", comenta a salva-vidas da guarita 132 de Imbé. Assim também era com colegas de profissão. Muitos, lembra Carla, não queriam fazer dupla nas guaritas com uma mulher. Atualmente, isso está mudando e as pessoas estão se dando conta que as mulheres conseguem também fazer salvamentos. "Esquecem que na água tudo flutua e nós temos a técnica para resgatar", salienta.


Roberts Caumo acredita não haver 
mais preconceito com as mulheres
da profissão
Crédito: Vinícius Roratto
Três guaritas depois, está Roberta Caumo, 31. Formada em Direito, ela pretende fazer o curso para oficial. Ela afirma não ter sentido preconceitos, tanto dos veranistas como dos colegas. "A maioria das pessoas dá força", garante. "Muitas mulheres elogiam o fato de eu estar atuando como salva-vidas", relata.



Colega de Roberta, na guarita 129, o salva-vidas civil Gabriel Marques Nunes diz que a dedicação e atenção ao trabalho são iguais para ambos os sexos, e o serviço é feito com a mesma qualidade. "Se elas estão aqui é porque merecem e têm condições", atesta. Também atuam no Litoral Norte na Operação Golfinho as salva-vidas Ana Maria Mizael, em Torres, Daphne Liberato e Karine König, em Cidreira, Mariana Riella, em Tramandaí, e a salva-vidas civil Mariana De Bem, em Imbé.


Fontes: Zero Hora e Correio do Povo































Fonte: André Mags - Zero Hora

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